Paralisação de fábricas por conta da disseminação da doença na China, principal fornecedor de peças para o segmento, pode afetar estoques locais nos próximos meses se a situação perdurar
Com forte dependência de equipamentos chineses, a indústria de geração de energia solar no Ceará poderá ser seriamente impactada, ainda neste semestre, caso perdure a paralisação de algumas fábricas na China por conta do coronavírus.
Embora os impactos ainda não tenham sido sentidos no mercado local, distribuidores temem a falta de equipamentos para a instalação de sistemas solares. Como a maior parte dos fornecedores está na China, há poucas alternativas para os importadores brasileiros, e as que existem podem ser inviáveis economicamente, por conta do preço.
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“Se persistir esse problema das regiões onde há coronavírus, teremos problemas para atender à demanda, porque todo o fornecimento de placas solares vem da China”, diz o engenheiro Jurandir Picanço, consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará. “Até existe produção nacional, mas o preço é tão superior, que pode ser inviável. E são pouquíssimos fornecedores que estão fora da China. O prejuízo pode ser grande, mas se for logo resolvido, o impacto será imperceptível, por causa dos estoques”.
De acordo com Lucas Melo, gerente comercial da Sou Energy, especializada na distribuição e instalação de painéis solares, a China é responsável por 100% do suprimento de módulos fotovoltaicos, 70% dos inversores e apenas as estruturas de fixação são fornecidas por empresas nacionais. “Algumas fábricas na China foram paradas e isso acaba afetando um pouco as novas compras, mas como o nosso volume de importação é rotineiro, a gente ainda não sentiu o impacto”, diz.
Melo estima que, se a situação das fabricantes na China perdurar, poderá haver problemas de fornecimento já em três meses. “Se isso se estender, teremos problemas, mas nós temos estoques e esperamos produtos que já foram embarcados”, aponta o gerente comercial. Hoje, o Ceará é o décimo estado brasileiro com o maior número de unidades geradoras de energia fotovoltaica, com mais de 5 mil sistemas residenciais, comerciais e industriais.
Em 2019, o número de instalações de geração distribuída mais que dobrou, crescendo 142% e passando de 1,7 mil em 2018 para 4,3 mil, número que já avançou para 4,4 mil em janeiro, segundo monitoramento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Como o Diário do Nordeste informou no último dia 1º, após encerrar o ano passado com cerca de 284 megawatts (MW) instalados, a potência de energia solar no Ceará deve praticamente dobrar ao longo de 2020 e gerar novos 4,8 mil empregos diretos, segundo estimativa realizada pelo presidente do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE), Benildo Aguiar.
Já na geração centralizada (correspondente às grandes usinas de geração de energia solar), o potencial instalado no Estado avançou 59%, com mais 81 megawatts (MW) em 2019, totalizando 218 MW. Nos próximos anos, ainda haverá o acréscimo de 1 GW de potência com construção de mais 29 usinas fotovoltaicas.
Importações
Os efeitos da doença Covid-19, no entanto, ainda não repercutiram no setor. Em janeiro, o Ceará importou da China US$ 324,8 mil em equipamentos fotovoltaicos (dispositivos fotossensíveis semicondutores, incluídas as células fotovoltaicas, mesmo montadas em módulos ou em painéis), volume 9,3% superior ao de janeiro de 2019. No ano passado, 99,9% das importações cearenses de equipamentos fotovoltaicos saíram da China, somando US$ 12,2 milhões, segundo dados do Ministério da Economia.
Segundo os dados do Indicador do Comércio Exterior (Icomex), divulgados na quinta-feira (20) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a epidemia do coronavírus na China que diminuiu as projeções de crescimento da economia chinesa, pondo em risco o desempenho do comércio exterior com o Brasil. “O coronavírus, junto com os efeitos do acordo entre China e Estados Unidos, aponta uma queda nos preços das commodities para os próximos meses, e de recuo do volume importado pela China”, diz a FGV.
Fonte: Aqui